Quinta-feira!
Pijama, cabelo molhado, um pouco frio, trouxeram o meu presente. Estava
empacotado e nem eu sabia se o era realmente.
Uma noite, dois dias, oito horas com aquela janela aberta. E só
aumentou. Era mesmo um presente que vagarosamente foi se desembrulhando.
Demorou pra eu perceber o que vinha lá dentro. Assim como quando criança batia
em ovos de Páscoa para tentar adivinhar a surpresinha, eu batia, balançava,
prestava a atenção em tudo tentando predizer o conteúdo que não era rotulado
como os chocolates. Não me trazia quaisquer tipos de informação. Melhor! Porque
sem um conhecimento prévio, tudo era novidade, aprendizado, vida, motivos para
ir mais longe, conhecer, estar junto. Tudo isso com a mais robusta
reciprocidade.
Sem
imaginar, um simples presente de uma quinta-feira comum, me rendeu uma
história. Está rendendo a melhor história! Já não me imagino sem essa
surpresinha que estava no interior do embrulho, sem esse alguém que eu brigo,
xingo, acaricio, discuto, dou as risadas mais feias, divido a menor cama já
vista para um casal tamanho GG. Não existe mais meu quarto organizado, o tapete
arrumado, não existe mais um pia de banheiro sem uma escova de dentes em cima,
jogada. Também não existe mais a pasta de dentes apertada do finalzinho para
cima, não se vê mais os cabides do meu guarda-roupas virados para um só lado. Simplesmente
porque não existe mais EU sem VOCÊ.
E
a única imagem alojada em meus pensamentos durante todos os dias é a minha
visão míope de você por trás de uma porta de vidro martelado, com os dedos
entre os fios de cabelo para deixar aquelas mechas soltas em cima de um óculos
que eu quebrei. Não é só desejo, vontade, risos. É toalha molhada em cima da
cama, é o pé no chinelo de pano depois do banho, é soco no rosto enquanto se
dorme, tapa na cara, tarde de sol, café da manhã na chuva, é o seu omelete
especial, SAL com peixe, brigadeiro no meio-fio na madrugada gelada. Não é
amor, é melhor!